quarta-feira, março 12, 2008

“Mais vale ficar na ignorância!”

Não é uma frase minha, mas tendo em conta as minhas últimas experiências é aquela que mais faz sentido responder quando tentam aprofundar como foi que ultrapassei. Esta primeira fase já foi. Ponto. Correu tudo bem e a mãe e o pai estiveram unidos, como sempre.

Há, no entanto e a meu ver, episódios, pensamentos, factos que vale a pena serem partilhados com todo o detalhe. São aqueles que têm a ver com as surpresas. As boas surpresas.

Para quem como eu gosta de planear, prever, antecipar (talvez para reduzir os níveis de insegurança face à novidade), é um choque entrar numa “realidade” completamente nova, mesmo quando nos preparamos para encontrar o que nos arrepia, enerva, angustia, assusta e quem muitas vezes desprezamos ou descriminamos.

Falo das pessoas que vivem a mesma experiência que nós - sendo muitas vezes “a experiência” o único elo de identificação existente entre nós e elas – e da profissão de Enfermeiro.

A nossa integração não seria tão perfeita sem a preciosa ajuda da peixeira Dália, este seria um hospital público atípico se no nosso quarto não estivesse confortavelmente instalada uma família de ciganos, as noites não teriam sido “animadas” sem os insultos que a senhora do lado fazia à filha (menina de 20 meses, acabada de sair do bloco), eu não seria eu sem ter feito as repreensões do costume, o Martinho não teria tido as suas primeiras experiências de socialização com meninos de outras etnias e classes sociais, nunca teríamos sentido a preocupação e apoio constantes dos pais da Marta (que entraram cabisbaixos e amedrontados porque a filha ia fazer uma operação aos dentes com anestesia geral, mas rapidamente perceberam que as crianças do mesmo quarto não gozavam da mesma sorte), nunca teria ouvido pai e filho rezarem em uníssono pedindo a Deus protecção na cirurgia que o miúdo ia fazer ao pénis, as enfermeiras não me teriam confessado que tenho um marido exemplar, que raramente assistem a tal dedicação de um pai para com um filho, o Tiago nem tão cedo teria outra oportunidade de combater os seus medos de seringas, cateteres, drenos, punções, anestesias...

Surpresa boa foi encontrar equipas de enfermeiros-amigos. Não nossos, mas dos nossos filhos. Simpatia, dedicação, preocupação, atenção, partilha. Não houve um único dia em que tivesse ocorrido atraso na medicação, biberon, mudança do penso. Não houve uma campainha tocada e não atendida, fosse a que hora fosse. Tudo muito bem explicadinho sempre que as perguntas da mãe revelavam medo. Pensei tantas vezes que esta é uma profissão inglória – “dão” tanto que pouco sobra para eles próprios, como se as suas vidas servissem para fazer viver as dos outros.

Obrigada aos Enfermeiros: Hélder, Rita (estagiária), Ana Isabel, Catarina, “Sardenta”, Paula...
Desejos de rápidas melhoras aos meninos: Afonso, Renato, Julian, Raquel, Jessica, Marta, João, Pedro, Gonçalo, Santiago, Dudu, Mariana.

Obrigada aos nossos pais, irmãos e aos amigos Carla Caldeira, Inês Caprichoso, Michelle, Deborah, Mónica, Marina, Rodrigo, Tânia, Carolina, Sofia, Enfermeira Cristina Flores, Paulo Quintino, Nocas, Bruno Gonçalves, Hugo, Tia Mimi, Tio Raul, Tio João Bio, Tia Teresa e Romeu pelas reconfortantes visitas (espero não me ter esquecido de ninguém!). Obrigada a todos os outros pelas sms’s e telefonemas de apoio.

Um abracinho especial do Dunga aos cirurgiões Dr. Filipe Catela Mota, Dr. João Goulão, Dra. Fátima Alves e Dra. Dinorah. Um beijinho à Pediatra e Nefrologista Dra. Arlete Neto.

ct

4 comentários:

ML disse...

já cantava o outro sr. "for good times and bad times... that's what friends are for"!!!!
(e o Martinho homenageou-o à saida da operação ehehehe ;-))

ÉS UMA AMIGA ENORME, UMA MÃE GIGANTEEEEE E UMA PESSOA FANTÁSTICAAAAAA


ML

Unknown disse...

E dizes que te arrepiaste a ler o meu post. Depois de tudo o que tu passaste as birras de sono e afins são muito bem-vindas. Para além de que o teu filho tendo nascido no meu dia de anos vai ser um miudo espectacular, com o seu feitio muito próprio, mas lindo de morrer. E garanto-te que por mais vontade tenhas de arrancar cabelos no dia em que está a fazer uma birra brutal quando lhe passar e começar a fazer gracinhas já nem te lembras.
Muitos beijinhos para ti e para o Tiago e 100000000 para o Martinho, um miudo com muita sorte na vida.
Yola

Anónimo disse...

Foram 3 corajosos que "ultrapassaram" uns dias muito difíceis! Um grande beijinho aos 3 Carolina

Anónimo disse...

Espero nunca ter de passar pelo mesmo mas, se acontecer, só peço para ter a vossa força! Emocionei-me imenso com este post...

Sofia