Já toda a gente reparou que faz parte da gíria da Restauração acabar sempre as palavras (sobretudo as que tenham a ver com comida…) em “inho”.
Ora, isto não se deve ao facto de os géneros alimentícios serem pequenos ou em pouca quantidade (normalmente, antes pelo contrário….). Este uso e abuso dos diminutivos tem a intenção de exprimir qualidade: acaba em “inho” o que é bom! A carne, só pelo facto de ser “carninha”, tem logo aspecto de ser tenra. O “peixinho” dá logo ar de ser fresco. A “cervejinha” vai necessariamente ser bem tirada. O “arrozinho” é solto, e as “batatinhas” são douradas! Ao ouvir a palavra “pãozinho”, qual reflexo de Pavlov, o cheiro a pão caseiro, quente e estaladiço, imediatamente abalroa as nossas pituitárias! Apetece comer, tudo parece ir cair bem!!!! A própria “continha” (quer que a traga?) promete ser suave e moderada….
O que é isto? É marketing, meus amigos!!!! É verdade! Anda pr’aí malta em faculdades, a estudar teorias complicadíssimas, para chegar onde chegaram os empregados de mesa há anos, com o seu saber de eficiência sobejamente comprovada!!! Já pensaram nisto?! A aplicação do “inho” em outdoors, em folhetos, em anúncios…. Gente do marketing, toca a acordar!!!!
E aqui vai um exemplo do que pode passar-se num restaurante onde uma família comum (2 adultos e 2 crianças) decide ir matar a fome:
Pai ou Mãe - Então, hoje o que é que tem?
“Garçon” (para lhe dar um ar chique de restaurante francês) - O prato do dia é carapauzinhos com arrozinho, que está uma especialidade! Mas se preferirem, tenho ali um peixinho fresquinho, acabadinho de chegar, que só grelhadinho, com umas batatinhas, fica de se lhe tirar o chapéu!
Pai ou Mãe - Então pode ser o peixe grelhado. E para as crianças, bife com batatas fritas, por favor.
“Garçon” - Então pr’ós meninos é só o bifinho com as batatinhas fritas?
Pai ou Mãe - É, sim.
“Garçon” - E para beber?
Pai ou Mãe - São duas cervejas e água para as crianças.
“Garçon” - (em voz baixa enquanto escreve) Duas cervejinhas e uma aguinha….É tudo?
Pai ou Mãe - É, sim.
“Garçon” - Muito bem, então trago já o pãozinho com as azeitonazinhas.
E aqui vai um exemplo do que pode passar-se num restaurante onde uma família comum (2 adultos e 2 crianças) decide ir matar a fome:
Pai ou Mãe - Então, hoje o que é que tem?
“Garçon” (para lhe dar um ar chique de restaurante francês) - O prato do dia é carapauzinhos com arrozinho, que está uma especialidade! Mas se preferirem, tenho ali um peixinho fresquinho, acabadinho de chegar, que só grelhadinho, com umas batatinhas, fica de se lhe tirar o chapéu!
Pai ou Mãe - Então pode ser o peixe grelhado. E para as crianças, bife com batatas fritas, por favor.
“Garçon” - Então pr’ós meninos é só o bifinho com as batatinhas fritas?
Pai ou Mãe - É, sim.
“Garçon” - E para beber?
Pai ou Mãe - São duas cervejas e água para as crianças.
“Garçon” - (em voz baixa enquanto escreve) Duas cervejinhas e uma aguinha….É tudo?
Pai ou Mãe - É, sim.
“Garçon” - Muito bem, então trago já o pãozinho com as azeitonazinhas.
por ISABEL MONTES PALMA
5 comentários:
que pratinho tão bonitinho este!!!!
obrigadinha pela colaboração a esta nossa nova "correspondente"
é aqui do nosso Chef Vitor Hipólito... um verdadeiro artista!
c
por amor de Deus!!!! em que restaurantes é que vocês andam???
ó neiva, não te iludas e experimenta tomar atenção... é que um eduardo das conquilhas, toca do rapozo ou outra "tasca bem frequentada" regem-se pelos mesmos principio"zinhos"!
Obviamente que estamos a falar de um “Solar dos Frangos”, de um “O Bilhas”, ou outro very typical restaurant (daqueles que têm um menu português/inglês com a menção "percebes/understandings"...)
A observação leva-nos a outra estratégia de Marketing, menos ancestral, mas também muito em voga nos nossos dias. Há efectivamente empresários que mostram uma intenção muito clara de se distanciar do “inho”. Para isso, começam logo por dar um toque de requinte ao nome do restaurante, que há-de ser qualquer coisa do género “Chez Manel”. Aí não há peixinho, nem carninha, Deus nos livre!!!! Do menu nesses restaurantes constam iguarias tais como "parfait de sardines grillées aux coeurs de poivrons cuits au parfum de printemps" que mais não são que as vulgares sardinhas assadas com pimentos e salada, só que com muito mais “charme”…. Depois, para lhes tirar o ar inevitável de arraial de Santo António, a apresentação é cuidada ao mais ínfimo pormenor! Mais marketing!!!! Em vez de virem 4 sardinhas e a salada ao lado, toda misturada, o prato é cuidadosamente estudado: vem uma única sardinha contorcida em espiral em cima de uma folha de alface passada a ferro. À volta, e dispostos em triângulo, estão: uma batata assada em forma de croquete, um montinho de pimentos verdes e vermelhos cortados em bocadinhos muito pequenos, e duas rodelas de tomate cortadas em forma de estrela. Por cima do conjunto algum artista fez um desenho em fio de azeite (do género dos da canela em cima do arroz doce) e, para rematar, há duas folhas de salsa inteiras em cima da sardinha e mais umas quantas, também cortadas em bocadinhos muito pequenos, pelo resto do prato. Et voilá!!! Está feita a diferença!!!!
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