quarta-feira, maio 03, 2006

Vidas desencontradas

Vidas desencontradas
rotinas rodeadas de fantasmas nocturnos que nos vão matando
vidas imitadas e pouco vividas
desencontros permanentes
procuras desejadas seguidas de encontros equivocados
sentimentos por expressar e com tanto que dizer
exigencias do perfeito retribuidas com todos os defeitos
sonhos desorientados à procura de um norte soalheiro
corações desconhecidos (por vezes de caras conhecidas)
que nos iluminam:
as rotinas
as procuras
os defeitos
os encontros
os corações
os sonhos
as vidas!!!

e letras que dizem tudo isto e mais...

"Lá em baixo ainda anda gente
apesar de ser tão noite
há quem tema a madrugada
e no escuro se afoite
há quem durma tão cansado
nem um beijo os estremece
de manhã acordarão
para o que não lhes apetece
e há quem imite os lobos
embora imitando gente
há quem lute e ao lutar
veja o mundo a andar para a frente


E tu Maria diz-me onde andas tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera do comboio
na paragem do autocarro


Lá em baixo ainda anda gente
apesar de ser tão tarde
há quem cresça no escuro
e do dia se resguarde

há quem corra sem ter braços
para os braços que os aceitam
e seus braços juntos crescem
e entrelaçados se deitam
e a manhã traz outros braços
também juntos de outra forma
de quem luta e ao lutar
a si mesmo se transforma

E tu Maria diz-me onde andas tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera do comboio
na paragem do autocarro


Lá em baixo ainda há quem passe
e um sonho que anda à solta
vem bater à minha porta
diz a senha da revolta
vou plantá-lo e pô-lo ao sol
até que se recomponha
é um sonho que acordado
vale bem quem ele sonha

lá em baixo, até já disse
que é que tem a ver comigo
e no entanto sobressalto
se me batem ao postigo

E tu Maria diz-me onde andas tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera do comboio
na paragem do autocarro


Lá em baixo ainda anda gente
e uma cara desconhecida
vai abrindo no escuro
uma luz como uma ferida
como a luz que corre atrás
da corrida de um cometa
e vejo vales e valados
no sopé duma valeta
lá em baixo ainda anda gente
e uma cara conhecida
vai ateando noite fora
um incêndio na avenida

És tu Maria, eu sei, já sei, és tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera do comboio
na paragem do autocarro"


Lá em baixo
Sérgio Godinho

3 comentários:

Anónimo disse...

por isso todos os momentos são preciosos... nada por dizer... sem "ses" (como diz o Djavan)...

Calos disse...

Amiga. Andas bem?..

tuBo em cima disse...

ando lindamente e à espera de comentários fantásticos ehehehe

beijinhos pra ti e pra minde